MARIA TERESA HORTA
POEMA SOBRE A RECUSA
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda
MORRER DE AMOR
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso.
POEMA ANTIGO
O homem que percorro
com as mãos
e a lua que concebo
na altitude
do tédio
Só
o oceano
penso paralelo - ventre
à praia intacta
das janelas brancas
com silêncio
ciclamens-astros
entre
as vozes que calaram
para sempre
o verbo - bússola
com raiz - grito de relevo
O homem que percorro
com as mãos
a estátua que consinto
a lua que concebo.
GOZO VI
São cintilantes grutas
que germinam
na obscura teia dos teus lábios
o hálito das mãos
a língua - as veias
São de cúpulas crisálidas
são de areia
São de brandas catedrais
que desnorteiam
(São de cúpulas crisálidas
são de areia)
na minha vulva
o gosto dos teus espasmos
MARIA TERESA HORTA
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