CESARE PAVESE
Tu és como uma terra
que ninguém jamais disse.
Tu não atendes nenhuma
senão aquela palavra
que do fundo brotará
como um fruto entre os ramos.
Há um vento que te toca.
Coisas secas e re-mortas
te chocam e vão no vento.
Membros, palavras antigas.
Tu tremes pelo estio.
(Tradução: Jorge de Sena)
Edward Steichen, 1908
Virá a morte e terá os teus olhos
Virá a morte e terá os teus olhos
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito emudecido, um silêncio.
Assim os vejo todas as manhãs
quando sobre ti te inclinas
ao espelho. Ó cara esperança,
nesse dia saberemos também nós,
que és a vida e és o nada.
Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
re-emergir um rosto morto,
como ouvir lábios cerrados.
Desceremos ao vórtice mudo.
(Tradução: Jorge de Sena)
Last blues, to be read Someday
Simeon Solomon
Foi só um flirt
e sabias, claro -
alguém foi ferido
há muito tempo.
Mas nada mudou
o tempo passou -
um dia chegaste
um dia morrerás.
Alguém morreu
há muito tempo -
alguém que queria
mas não sabia.
Tradução de Carlos Leite
CESARE PAVESE (1908 – 1950)
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