O POEMÁRIO DE MARIANA

A poesia é a expressão verbal correspondente a uma percepção de vida subtil e pluridimensional.Instrumento expansivo de consciência, a poesia corresponde ao sentir, expresso no verbo sem as amarras da mente racional. Relembra algo que nos falta e que frequentemente não sabemos apontar e repõe a complexa beleza da manifestação...
MARIANA INVERNO

Friday, February 11, 2005

LÍLIA CHAVES


Poetisa de palavras serenas inscreve no verso ágil e musical a profundidade da emoção poética - bela, encantatoria, ferida e sensual, perplexa…



O meu poema é feito
para ser imagem
(sem ser visto)
e falar pelo silêncio
de um suspiro refletido.
É lido para ser pensado
e viver no pensamento adormecido
como um vôo de pássaro que passou.

É essa passagem absoluta que ficou.

O meu poema
é um jeito de fechar os olhos



VEM MORRER VIVENDO NOS MEUS BRAÇOS


Vem morrer vivendo nos meus braços
Preenche com meu colo teus espaços
Do avesso do meu não, faz o teu sim
Vem poetar de amor dentro de mim

Grita o aroma rubro do desejo em flor
Perde teu gosto fulvo desta pele em cor
Pensa nas sombras de gemidos vãos
E faze de meus lábios tuas mãos
Sente meu toque no teu toque exangue
Vive meu gozo em teu próprio sangue

Dá-me teu beijo para que eu afague
Dá-me teus olhos para que eu me afogue
Teu pensamento onde minh’alma cabe
E que meu corpo no teu corpo acabe



POENTE BRANCO

Andei pintando poesia nas palavras
Fingindo o tempo em sonhos impossíveis
Inventando premências sem sentido
Convivendo ausências
Medindo o porvir

Andei desperdiçando o rosto nas esperas
Sentindo o mundo em vazios inesquecíveis
Andei passando o sol despercebido
Bebi auroras
Embriaguei meus céus

Agora, traçam-me as letras tardiamente
Sonham-me versos tristes nos papéis
Tornei-me o silêncio da página vazia
O gesto sem toque,
O sentido sem forma

Pesa-me a inanidade branca do poente.



SE O SILÊNCIO

Se o silêncio persistir
procura-me entre os relógios
e aquele pássaro
(na gaveta)
eu sou a pena antiga
eu sou a ilha do desenho
(queimado)
de nanquim
sou a cinza das cartas
entre os túmulos
e esta idéia gêmea em nossos corpos
(sem par).

Se o silêncio persistir
respira-me nos confins das noites
(no patchuli do meu aroma)
e deixa partir teu pensamento:
estou na canoa sem porto
feita de vento
e miriti.

Não reveles da caixinha
o segredo laqueado
e guarda o amor dos teus plurais
toca-me na capa de couro
dos cadernos teus de sonho
relembra impresso
o tempo nosso das palavras

E beija-me o silêncio...
sou este beijo que ficou
em teu lábio
pendurado.


LÍLIA CHAVES

3 Comments:

Blogger hfm said...

Já conhecia a sua bela poesia mas é sempre bom encontrá-la aqui.

3:18 AM  
Blogger mariana said...

E é sempre bom sentir a sua presença no meu POEMÁRIO.
Bem haja!
Mariana

4:33 PM  
Blogger Larissa said...

This comment has been removed by the author.

12:27 PM  

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