JUAN RAMÓN JIMENEZ
que o meu coração seja igual a ti, poente!
descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,
...e o vento do esquecimento arraste o que é doente!
Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.
Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.
Mas haverá estrelas, flores
e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.
E tocará esse piano
como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.
Todas as rosas são a mesma rosa,
amor!, a única rosa;
e tudo está contido nela,
breve imagem do mundo,
amor!, a única rosa.
É MINHA ALMA
Não sois vós, férteis águas
de ouro as que correis
pelos fetos, é minha alma.
Não sois vós, frescas asas
livres, que vos abris
à íris verde, é minha alma.
Não sois vós, doces ramos
rubros, que vos moveis
ao vento lento, é minha alma.
Não sois vós, claras, altas
vozes as que vos coais
do sol que tomba, é minha alma.
Juan Ramón Jimenez (1881-1958)
Prémio Nobel de Literatura
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