O Canto de TAGORE
Daqui por diante eu me expressarei
em sussurros...
...Gastei muitas e muitas horas na luta
entre o bem e o mal. Mas agora o prazer do
meu companheiro de jogos nos dias vazios
é atrair o meu coração para o seu.
E eu não compreendo
por que esse repentino convite
para não sei qual inútil inconsequência!
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Se não falas, vou encher o meu
coração com o teu silêncio, e aguentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite em
sua vigília estrelada, com a cabeça
pacientemente inclinada.
A manhã certamente virá, a
escuridão se dissipará, e a tua voz se
derramará em torrentes douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras voarão em
canções de cada ninho dos meus pássaros,
e as tuas melodias brotarão em flores por
todos os recantos da minha floresta.
Aqueles que me amam neste
mundo procuram a todo custo manter-me
preso. Mas o teu amor, muito maior que o
deles, é diferente, pois tu me conservas livre.
Eles temem que eu os esqueça, e por
isso nunca me deixam sozinho. No entanto,
passam-se dias e dias, e tu não apareces.
Mesmo que eu não te invoque em
minhas orações, e mesmo que eu não te
conserve em meu coração, o teu amor por
mim sempre fica esperando o meu amor.
O dia já se foi, e a sombra
envolve a terra. É hora de ir ao rio para
encher o meu cântaro.
O ar da tarde está ansioso com a
música triste da água. Sim, ele me chama
para entrar no crepúsculo. Ninguém passa
pelo caminho solitário. O vento se levanta e
as ondas se encavalam no rio.
Não sei se voltarei para casa. Não sei
com quem poderia me encontrar. No vau
do rio, num pequeno barco, o homem
desconhecido toca o seu alaúde.
... A cortina que separa as minhas
canções das tuas por um momento
esvoaçou ao vento. Então vi que a luz
da tua manhã estava repleta das canções
mudas que eu jamais cantei... Pensei
que as aprenderia aos teus pés, e
sentei-me, em silêncio.
Ó meu Deus, permite-me
que todos os meus sentidos se dilatem,
e eu farei este mundo roçar os teus pés,
numa derradeira saudação a ti.
RABINDRANATH TAGORE (1861-1941)
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