RILKE
Amo as horas sombrias do meu ser
em que os meus sentidos se aprofundam;
nelas encontrei, como em velhas cartas,
o meu dia a dia já vivido,
ultrapassado e vasto como numa lenda.
Elas me ensinam que possuo espaço
p’ra uma intemporal Segunda vida.
E por vezes sou como a árvore
que, madura e tumorosa, sobre uma campa
cumpre o sonho que a criança de outrora
(abraçada por suas cálidas raizes)
perdeu em tristezas e canções.
RAINER MARIA RILKE (1875-1926)
Tradução: Ana Hatherly
SE É QUE ASSIM DESEJAS
Se é que assim desejas,
se for assim do teu gosto,
cessarei de cantar!
Se com isso agitar
teu coração,
do meu olhar o triste brilho
desviarei do teu rosto...
E se eu, de súbito, te assustar
no teu passeio despreocupado,
afastar-me-ei do teu lado
e tomarei outro trilho...
Se eu te embaraçar – ai de mim -
quando teceres as tuas flores,
flor encantada,
esquivar-me-ei do teu
solitário jardim
e da tua doce imagem...
E se eu tornar a água turva e agitada,
jamais remarei a minha barca
para a tua margem...
RABINDRANATH TAGORE (1861-1941)
Trad: Victor de Sa Coelho
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