POEMAS INCONJUNTOS
Vai alta no céu a lua da Primavera.
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam como tu queres.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
ALBERTO CAEIRO
Poesia de FERNANDO PESSOA (1888-1935)
CANTATA DE PAZ
Sophia de Mello Breyner, por Arpad Szenes
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (1917-2004)
COMIGO ME DESAVIM
Comigo me desavim:
Vejo-me em grande perigo!
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim!
Antes que este mal tivesse
Da outra gente fugia:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse!
Que cabo espero, ou que fim
Deste cuidado, que sigo
Pois trago a mim comigo
Tamanho inimigo em mim!
FRANCISCO SÁ DE MIRANDA (1481-1558)
Cancioneiro Geral
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