O POEMÁRIO DE MARIANA

A poesia é a expressão verbal correspondente a uma percepção de vida subtil e pluridimensional.Instrumento expansivo de consciência, a poesia corresponde ao sentir, expresso no verbo sem as amarras da mente racional. Relembra algo que nos falta e que frequentemente não sabemos apontar e repõe a complexa beleza da manifestação...
MARIANA INVERNO

Sunday, September 19, 2004

MARIA HELENA VARELA


Soube da sua morte, antes de a encontrar em vida. Antes que a profundidade e pureza poética dos seus versos me tivesse sido revelada.
Deixou-nos ontem, no Brasil do seu destino.
Connosco ainda e para sempre, a sua memória, na palavra indestrutível...



SOLILÓQUIOS

Eu não curto o amor porque mal vivo,
Ignorada nas páginas da escrita.
Mas quem disser que eu não amo
E que o meu corpo não sente,
Com certeza mente,
Porque eu amo o Amor.
O amor e a pele miscigenados
Num passivo atico aquém do ter,
O pathos e o dom amalgamados
Num devir sem asas de Mulher.



BRASIL

Se eu carregasse as vidas da mulata,
Venerando seus deuses e orixás,
Se a hybris de seu corpo mais inata
Tomasse a minha alma em seus afãs.

Se as privadas batalhas que sustento,
Nos íntimos amargos do meu eu,
Fossem gozos que fazem seu contento
E lhe outorgam na terra um outro céu.

Ah! Se eu fosse a mulata não seria
Esta ânsia, este errar, esta euforia
Virgenmente parada, virtual!...

Esqueceria os átomos e os astros,
Içava minhas velas e meus mastros
E tornava-me toda um carnaval.



PATRILÍNGUA

Não trouxe dos pinhais
Nem das cidades,
Um punhado de terra,
Um chão, um leito,
Apenas a palavra
Em que me aceito,
Firmo sem fundar.
Casa, concha, casca,
Língua de água,
Minha pátria dizível,
Mar sem mágoa,
Limite e limiar,
Que o meu coração me pensa
E a mátria é tudo,
Fratrias descobri
Neste lugar.
Não carrego sibilas
Nem profetas,
Que apenas os poetas,
Filósofos ou não,
Sempre o serão.



VERDADE

Um campo vasto – a verdadeira Verdade,
Absoluta, protoconsensual,
Vago e minado campo,
Infundado e abissal.

E eu inconsolável
No inferno do fragmento,
Mônada com janelas,
Procurando as estrelas
E dormindo sem elas.

Céptica, não cínica,
Quem sabe há fragmentos
Totalizantes?
Quem sabe,
Em pleno inferno,
Há mais do que ruínas?


MARIA HELENA VARELA (1952 - 2004)


1 Comments:

Blogger WP said...

Também gostaria de saber!
wlspena@gmail.com

6:49 PM  

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