MARIANA INVERNO
terra primordial tellus mater
submissa matriz
ao princípio activo dos céus
terra virgem um dia
atravessada pelas lâminas
do nosso aviltamento
abóbada sepulcro
firme e duradoura
coagulada por antigos heróis míticos
separada das águas
antes dos tempos contados
o cosmos chora por ti
rasgado nos espaços sem fim
o olho do coração universal
deixa escorrer
acabada meteórica
gigantesca gota de âmbar
choupos tremulam nas ladeiras húmidas
choram os ventos crescente ladainha
anunciadora de mudança
haverá talvez cinzas e fogo
vagas sombrias altaneiras
redes de morte abrangentes
e um estertor ressonante
como os ecos ancestrais
que nos acossam no delírio
terra mãe terra
chora por ti
o coração cósmico e nele o meu
perdoa os interlúdios de dor
a alienada batida da vida ora manifesta
nos teus solos nas águas infestadas
e pelos ares (outrora subtis livres)
essa célere via entre ti e os céus
terra mãe terra
o cosmos chora por ti
MARIANA INVERNO (n.1950)
Foto: José M. F. Coutinho
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